A ausência de uma União dos Mercados de Capitais, o facto de os investimentos não serem canalizados para as empresas mais produtivas e os custos altos da energia são os três fatores que limitam a Europa, disse a diretora-geral do FMI à Euronews.
Apesar das perspetivas globais positivas, o futuro da economia mundial é incerto. Segundo a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), em conversa com a Euronews em Davos, a UE tem de continuar a melhorar o seu mercado único se quiser ser mais competitiva.
Kristalina Georgieva começou pelas boas notícias no Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, durante uma edição especial de Europe Conversation: a economia mundial está a crescer e a inflação está a descer.
"A economia mundial está a crescer a um ritmo estável. Prevemos um crescimento de 3,3 % para este ano e também para o próximo. A inflação está a baixar. Ainda não atingiu a meta, mas está lá perto. E isso foi conseguido mesmo com a subida das taxas de juro, com a economia a conseguir escapar a uma recessão", disse Kristalina Georgieva à Euronews, em Davos.
"A bela adormecida"
No entanto, com uma análise mais atenta, é possível constatar "uma enorme divergência na situação económica dos países": os EUA estão a sair-se "muito bem", enquanto "a Europa está a estagnar", afirmou.
Segundo a diretora-geral, as perspetivas de crescimento a longo prazo são ínfimas, abaixo da média de antes da pandemia, e, por isso, os países devem concentrar-se na produtividade.
"Os EUA estão a crescer, graças à produtividade elevada. Nos outros sítios, a produtividade parece estar adormecida, não há sinais dela", disse Georgieva.
Segundo ela, existem três fatores que impedem a Europa de avançar: a ausência de uma União dos Mercados de Capitais, o facto de os investimentos não serem canalizados para as empresas mais produtivas e os custos altos da energia.
Competitividade
Se a Europa quer tornar-se mais competitiva, tem de "focar-se no mercado único", diz a diretora-geral do FMI.
Enquanto "as poupanças dos europeus forem para os Estados Unidos, porque lá são mais rentáveis" e "enquanto as poupanças internas não forem atribuídas às empresas mais dinâmicas, a Europa enfrentará muitas dificuldades para cumprir o objetivo de vir a tornar-se altamente competitiva", alertou.
Donald Trump
Ao analisar as promessas eleitorais do presidente Donald Trump, Georgieva identificou quatro blocos de reformas políticas orientadas para a competitividade e para a segurança nacional, cujo impacto na economia global ainda não está claro: comércio, impostos e despesa pública, desregulamentação e imigração.
Trump ameaçou, por exemplo, aplicar direitos aduaneiros à União Europeia e aumentar os atuais direitos aduaneiros sobre a China. O impacto de tais medidas na economia mundial dependerá também da reação dos países, disse Georgieva.
"Existe uma probabilidade de quase 75% de que, no prazo de um ano, um país ao qual seja imposta uma medida protecionista a retribua", afirmou.
As preocupações em relação à segurança nacional também estão a aumentar.
"Estes dois objetivos, a segurança nacional e a competitividade económica, estão interligados. Se a Europa for mais forte do ponto de vista económico, estará também numa posição melhor para ter uma defesa forte que proteja os seus cidadãos", afirmou.