Um novo relatório da Christian Aid concluiu que a Europa registou três das 10 catástrofes climáticas mais dispendiosas em 2024.
De acordo com um novo relatório, as dez catástrofes climáticas mais dispendiosas do ponto de vista financeiro, no ano de 2024, tiveram todas um impacto superior a 4 mil milhões de dólares (3,8 mil milhões de euros).
O estudo, da autoria da organização de beneficiência Christian Aid, revelou que a Europa sofreu três das dez catástrofes mais dispendiosas, com destaque para a tempestade Boris na Europa Central e as inundações em Espanha e na Alemanha.
A maior parte das estimativas baseia-se apenas em prejuízos cobertos por seguros, o que significa que os verdadeiros custos financeiros são provavelmente ainda mais elevados. Já os custos humanos são, muitas vezes, inumeráveis, afirma a organização.
O relatório destaca ainda dezfenómenos meteorológicos extremos que não provocaram perdas seguradas suficientemente grandes para entrarem no top 10, mas que foram igualmente devastadores e afetaram, muitas das vezes, milhões de pessoas.
Entre estes, contam-se vários acontecimentos ocorridos em países mais pobres, onde muitas pessoas não têm seguro e onde os dados são menos íveis.
"Este relatório recorda-nos de forma preocupante que as alterações climáticas não podem ser ignoradas e que, de facto, vão piorar muito até que façamos algo para as travar", afirma Joanna Haigh, professora emérita de Física Atmosférica no Imperial College de Londres.
"Os políticos que minimizam a urgência da crise climática só servem para prejudicar o próprio povo e causar um sofrimento indescritível em todo o mundo."
Desastre climático mais caro do mundo ocorreu nos EUA
O relatório concluiu que os EUA sofreram as consequências dos desastres climáticos mais dispendiosos no ano de 2024, com o furacão Milton, em outubro, no topo da lista como sendo o maior evento pontual desta natureza, com 60 mil milhões de dólares (57,5 mil milhões de euros) em danos e 25 mortes.
O furacão Helene, que atingiu os EUA, Cuba e México em setembro, segue-se nesta lista, com 55 mil milhões de dólares (53 mil milhões de euros) e 232 mortes.
De facto, os Estados Unidos foram atingidos por tantas tempestades dispendiosas ao longo do ano que, mesmo excluindo os furacões, as outras tempestades convectivas custaram mais de 60 mil milhões de dólares (57,5 mil milhões de euros) em prejuízos e mataram 88 pessoas.
Nenhuma parte do mundo foi poupada a catástrofes climáticas devastadoras em 2024. As inundações na China custaram 15,6 mil milhões de dólares (15 mil milhões de euros) e mataram 315 pessoas.
O tufão Yagi assolou o sudoeste asiático, matando mais de 800 pessoas. O Yagi atingiu as Filipinas a 2 de setembro e depois ou para Laos, Myanmar, Vietname e Tailândia, onde provocou deslizamentos de terras e inundações repentinas e danificou centenas de milhares de casas e terrenos agrícolas.
Europa sofreu 3 das 10 catástrofes climáticas mais dispendiosas do mundo
Foi na Europa que se registaram três das dez catástrofes mais dispendiosas, com a tempestade Boris na Europa Central e as inundações em Espanha e na Alemanha a custarem um total de 13,87 mil milhões de dólares (13,5 mil milhões de euros). Estes acontecimentos mataram 258 pessoas, 226 das quais nas inundações de Valência em outubro.
O Reino Unido não entrou na lista este ano, mas, em dezembro, a Agência do Ambiente avisou que um quarto das propriedades em Inglaterra (cerca de oito milhões) poderia estar em risco de ser alvo de inundações até 2050 devido às alterações climáticas.
Catástrofes climáticas custaram menos aos países mais pobres, mas foram igualmente devastadoras
Embora o top 10 se concentre nos custos financeiros - que são normalmente mais elevados nos países mais ricos, porque têm valores de propriedade mais elevados e conseguem pagar seguros - alguns dos fenómenos climáticos extremos mais devastadores em 2024 atingiram os países mais pobres.
Muitos deles são também países que pouco contribuíram para causar a crise climática e que têm menos recursos para responder à mesma.
Entre eles, o ciclone Chido, que devastou as ilhas de Mayotte em dezembro e pode ter matado mais de mil pessoas.
Uma grave seca na Colômbia fez com que certas partes do rio Amazonasbaixassem 90%, ameaçando os meios de subsistência dos povos indígenas que dele dependem para alimentação e transporte.
As ondas de calor afetaram 33 milhões de pessoas no Bangladesh e agravaram a crise humanitária em Gaza.
A África Ocidental foi atingida por terríveis inundações que afetaram mais de 6,6 milhões de pessoas na Nigéria, no Chade e no Níger. Na África Austral, a pior seca de que há memória atingiu mais de 14 milhões de pessoas na Zâmbia, no Malawi, na Namíbia e no Zimbabué.
A Christian Aid afirma ainda que estes acontecimentos extremos põem em evidência a necessidade de uma ação mais urgente para reduzir as emissões de carbono e acelerar a transição para as energias renováveis. Sublinha igualmente a importância de disponibilizar financiamento para as pessoas vulneráveis.
"O sofrimento humano causado pela crise climática reflete escolhas políticas", considera Patrick Watt, diretor executivo da Christian Aid.
"As catástrofes estão a ser potenciadas pelas decisões de continuar a queimar combustíveis fósseis e de permitir o aumento das emissões. Em 2025, precisamos de ver os governos a liderar e a tomar medidas para acelerar a transição ecológica, reduzir as emissões e financiar as suas promessas."
Acrescenta que, embora a transição para uma economia global alimentada por energias renováveis seja "inevitável", a questão é saber se será suficientemente rápida para proteger as pessoas mais pobres.
"Estas terríveis catástrofes climáticas são um sinal de aviso do que está por vir se não acelerarmos a transição para longe dos combustíveis fósseis", afirma.
"Mostram também a necessidade urgente de medidas de adaptação, especialmente no Sul global, onde os recursos são especialmente limitados e as pessoas são mais vulneráveis a fenómenos climáticos extremos."