{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/green/2019/11/06/artico-um-gelo-traicoeiro" }, "headline": "\u00c1rtico: um gelo trai\u00e7oeiro?", "description": "Os ver\u00f5es sem gelo est\u00e3o a expor os ecossistemas do \u00c1rtico a mais do que \u00e1guas livres.", "articleBody": "\u00c9 geralmente em setembro que o gelo marinho do \u00c1rtico atinge a sua cobertura m\u00ednima. No entanto, os n\u00edveis do m\u00eas ado foram de novo invulgarmente baixos, segundo os dados do Copernicus Climate Change Service (C3S) da UE. O gelo cobria uma \u00e1rea 36% inferior dos mares \u00e1rticos, em compara\u00e7\u00e3o com a m\u00e9dia de setembro de 1981 a 2010. O gelo marinho caiu para m\u00ednimos recorde em 2012 e 2007, diminuindo, em m\u00e9dia, 13,4% por d\u00e9cada entre 1979 e 2015 (fonte: Intergovernamental sobre as Altera\u00e7\u00f5es Clim\u00e1ticas (IPCC)). Recentemente, os seus n\u00edveis atingiram valores abaixo da m\u00e9dia at\u00e9 no final do inverno, geralmente a \u00e9poca de m\u00e1ximos, revelam os dados do Copernicus. O \u00c1rtico est\u00e1 a aquecer ao dobro do ritmo do resto do planeta , com as temperaturas mais elevadas a for\u00e7arem o gelo mar\u00edtimo a entrar num ciclo de fus\u00e3o e redu\u00e7\u00e3o da espessura. A sua extens\u00e3o \u00e9 hoje inferior \u00e0 das d\u00e9cadas de 1980 e 1990 \u0022em todas as \u00e1reas, todos os meses e todas as esta\u00e7\u00f5es\u0022, segundo um relat\u00f3rio recente do IPCC , que refere que os cada vez mais reduzidos n\u00edveis de gelo marinho de setembro s\u00e3o provavelmente in\u00e9ditos, pelo menos, nos \u00faltimos 1000 anos. O mesmo relat\u00f3rio indica que a \u00e9poca de fus\u00e3o do gelo mar\u00edtimo do \u00c1rtico \u00e9 agora mais longa: o gelo funde mais cedo e as \u00e1guas gelam mais tarde no ano. \u0022Teremos gelo marinho no inverno ainda durante muito tempo. No entanto, se n\u00e3o tomarmos medidas rapidamente, o gelo marinho estival poder\u00e1 essencialmente desaparecer dentro de apenas algumas d\u00e9cadas\u0022, afirmou o Dr. Mark Serreze, diretor do National Snow and Ice Data Center (NSIDC). Em 2018, o Copernicus relatou a primeira vez em quatro d\u00e9cadas em que o gelo marinho a norte de Gronel\u00e2ndia se abriu inesperadamente no inverno com o influxo de ar quente no \u00c1rtico. As previs\u00f5es exatas e a monitoriza\u00e7\u00e3o da evolu\u00e7\u00e3o do gelo marinho continuam a ser fundamentais para a compreens\u00e3o das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. O C3S tem vindo a melhorar as suas previs\u00f5es com sistemas de modeliza\u00e7\u00e3o que combinam informa\u00e7\u00e3o recolhida em tempo real sobre o oceano, o mar e o gelo com dados hist\u00f3ricos desde 1979. S\u00e3o essenciais dados di\u00e1rios sobre a concentra\u00e7\u00e3o, a extens\u00e3o, o tipo e a espessura do gelo marinho para os investigadores estudarem as intera\u00e7\u00f5es entre o mar e a atmosfera, bem como a influ\u00eancia do gelo marinho nos ecossistemas e na navega\u00e7\u00e3o mar\u00edtima. As superf\u00edcies brancas refletem a luz solar muito melhor do que as mais escuras; o gelo marinho estival reflete cerca de metade da radia\u00e7\u00e3o solar que o atinge. Em contrapartida, apenas 10% da mesma \u00e9 refletida pelas \u00e1guas livres, pelo que um \u00c1rtico com menos gelo marinho no ver\u00e3o absorve mais calor do que o habitual. Trata-se do efeito do albedo do gelo marinho, um dos principais motivadores da \u0022amplifica\u00e7\u00e3o \u00e1rtica\u0022 , segundo o Copernicus. \u0022\u00c9 parte de um ciclo vicioso: estamos a perder a camada de gelo marinho porque a temperatura est\u00e1 a aumentar e, em simult\u00e2neo, a perda da cobertura desse gelo aumenta ainda mais a temperatura\u0022, afirmou Serreze. \u0022Essencialmente, o \u00c1rtico atua como um frigor\u00edfico que ajuda a arrefecer o planeta, e esse efeito est\u00e1 a perder-se. A perda da cobertura do gelo marinho est\u00e1 a acelerar o aquecimento global\u0022. A fus\u00e3o do gelo marinho pode tamb\u00e9m libertar metano, um g\u00e1s com efeito de estufa, aprisionado sob o gelo permanente do \u00c1rtico, na plataforma continental a pouca profundidade. Anteriormente, o gelo marinho cobria as costas do \u00c1rtico at\u00e9 no ver\u00e3o, mantendo-as abaixo da temperatura de congela\u00e7\u00e3o, explicou o Prof. Peter Wadhams, professor de f\u00edsica oce\u00e2nica na Universidade de Cambridge. Contudo, na \u00faltima d\u00e9cada, com o gelo marinho a recuar e as \u00e1guas a aquecer, estas atingiram o leito marinho e come\u00e7aram a derreter o gelo permanente ao largo da costa, e o metano subjacente pode assim libertar-se para a atmosfera. As proje\u00e7\u00f5es mostram que, se apenas 8% do g\u00e1s aprisionado escapar, o que corresponde a cerca de 50 GT, as temperaturas globais poder\u00e3o subir 0,6 \u00b0C, afirmou Wadhams. \u0022Esta \u00e9 uma grave amea\u00e7a que paira sobre a humanidade\u0022. A redu\u00e7\u00e3o da espessura do gelo marinho altera tamb\u00e9m a quantidade de luz que penetra na \u00e1gua, o que afeta os processos biol\u00f3gicos marinhos , incluindo ao n\u00edvel do fitopl\u00e2ncton e dos peixes. \u0022Acreditamos que as intera\u00e7\u00f5es em toda a cadeia alimentar sofrer\u00e3o altera\u00e7\u00f5es profundas com menos gelo\u0022, afirma a Dra. Barbara Niehoff, diretora-adjunta da sec\u00e7\u00e3o de oceanografia biol\u00f3gica polar do Alfred Wegener Institut, afetando desde os predadores no topo da pir\u00e2mide e as suas presas at\u00e9 aos produtores prim\u00e1rios (fitopl\u00e2ncton) e secund\u00e1rios (zoopl\u00e2ncton herb\u00edvoro)\u0022. Al\u00e9m disso, o gelo marinho cont\u00e9m e transporta min\u00fasculas part\u00edculas de pl\u00e1sticos, na maioria dos casos em concentra\u00e7\u00f5es muito mais elevadas do que na \u00e1gua do mar l\u00edquida; a sua fus\u00e3o sugere que a liberta\u00e7\u00e3o de pl\u00e1sticos no oceano pode acelerar , segundo Chelsea Rochman, professora auxiliar do departamento de biologia da Universidade de Toronto. Amostras de gelo de cinco regi\u00f5es do \u00c1rtico continham at\u00e9 12 000 part\u00edculas de micropl\u00e1sticos por litro de gelo, revelou um estudo recente. Com o influxo de \u00e1gua do Atl\u00e2ntico Norte e dos mares europeus para o \u00c1rtico, quantidades cada vez maiores de res\u00edduos pl\u00e1sticos poder\u00e3o entrar na regi\u00e3o numa quest\u00e3o de anos, de acordo com o Dr. Jason Holt , diretor de modela\u00e7\u00e3o de sistemas marinhos no National Oceanography Centre. A possibilidade de, a meio do s\u00e9culo, termos um \u00c1rtico sem gelo marinho estival proporciona um atalho apelativo para a navega\u00e7\u00e3o da Europa para a \u00c1sia e abre mais das suas \u00e1reas \u00e0 explora\u00e7\u00e3o de recursos naturais. Contudo, um \u00c1rtico com pouco gelo pode desestabilizar os fr\u00e1geis ecossistemas polares e afetar profundamente o clima do planeta, advertem os cientistas. Atravessando as \u00e1guas \u00e1rticas desprovidas de gelo, os navios podem reduzir em cerca de 10 a 15 dias a atual viagem de 48 dias da Europa at\u00e9 \u00e0 \u00c1sia Oriental. A atividade de transporte mar\u00edtimo sofreu j\u00e1 um aumento nas \u00faltimas duas d\u00e9cadas, em linha com a fus\u00e3o do gelo marinho, revela o relat\u00f3rio do IPCC. A navega\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s do gelo invernal poder\u00e1 ficar tamb\u00e9m facilitada, uma vez que as \u00e1guas geladas t\u00eam vindo a diminuir de espessura - desde 1979, cerca de 90% da superf\u00edcie do gelo marinho com mais de cinco anos desapareceu , o que significa que o gelo \u00e9 agora mais f\u00e1cil de quebrar. O aumento do tr\u00e1fego atrav\u00e9s dos ecossistemas intocados do \u00c1rtico suscita preocupa\u00e7\u00f5es sobre a exposi\u00e7\u00e3o ambiental a derramamentos de petr\u00f3leo e \u00e0 polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica. A maior amea\u00e7a da navega\u00e7\u00e3o mar\u00edtima \u00e9 o fuel\u00f3leo pesado (HFO), de acordo com o Conselho do \u00c1rtico, um f\u00f3rum intergovernamental dos Estados do \u00c1rtico. A combust\u00e3o do \u00f3leo residual rico em enxofre, favorecido pelos grandes navios, liberta elevadas quantidades de subst\u00e2ncias nocivas, tais como CO2, que contribui para o aquecimento global, \u00f3xido nitroso e carbono negro, o segundo g\u00e1s aprisionador de calor mais potente. A elevada densidade deste \u00faltimo torna-o tamb\u00e9m extremamente dif\u00edcil de limpar em caso de derramamento. Em 2015, cerca de 57% do combust\u00edvel usado pelos navios no \u00c1rtico foi HFO . As emiss\u00f5es provenientes dos navios incluem o carbono negro, libertado pela combust\u00e3o incompleta de combust\u00edvel; esta subst\u00e2ncia absorve mais radia\u00e7\u00e3o, tanto na atmosfera como quando se deposita sobre a neve e o gelo. Estudos mostram que o carbono negro no \u00c1rtico pode ter um efeito de aquecimento cinco vezes superior ao das latitudes mais a sul. Em compara\u00e7\u00e3o com 2015, as estimativas revelam que as emiss\u00f5es de carbono negro podem aumentar 6,5% at\u00e9 2015. No entanto, basta um pequeno desvio de grandes cargueiros dos canais do Panam\u00e1 e do Suez para o \u00c1rtico para aumentar as emiss\u00f5es em 46%. Algumas companhias de navega\u00e7\u00e3o , incluindo a terceira maior empresa mundial de navios de contentores, est\u00e3o j\u00e1 a anunciar que n\u00e3o utilizar\u00e3o a rota mar\u00edtima do Norte por quest\u00f5es ambientais. A abertura de novas rotas mar\u00edtimas amea\u00e7a tamb\u00e9m os habitats selvagens, ainda que a magnitude dos danos potenciais permane\u00e7a incerta. Um estudo de 2018 sobre sete esp\u00e9cies end\u00e9micas de mam\u00edferos marinhos do \u00c1rtico revelou que mais de metade das 80 popula\u00e7\u00f5es animais era vulner\u00e1vel \u00e0s rotas mar\u00edtimas; o narval, uma esp\u00e9cie de baleia que n\u00e3o tende a sair de um habitat limitado, \u00e9 a mais sens\u00edvel, juntamente com a beluga e a morsa. As zonas de tr\u00e1fego mais intenso, tais como o Mar de Bering ou o \u00c1rtico do Canad\u00e1 Oriental, revelaram ser tr\u00eas vezes mais vulner\u00e1veis a impactos da navega\u00e7\u00e3o do que as \u00e1reas mais remotas. Os especialistas afirmam que poder\u00e1 n\u00e3o existir espa\u00e7o suficiente para a coexist\u00eancia da vida selvagem com a navega\u00e7\u00e3o sem que se produzam impactos, mesmo com a fus\u00e3o do gelo marinho. \u0022As altera\u00e7\u00f5es do ritmo, da distribui\u00e7\u00e3o e da espessura do gelo marinho e da neve foram associadas a altera\u00e7\u00f5es na distribui\u00e7\u00e3o, na cria\u00e7\u00e3o de abrigos, no comportamento de procura de alimentos e na sobreviv\u00eancia dos ursos polares, segundo o IPCC\u0022, afirmou Melanie Lancaster, especialista principal em esp\u00e9cies \u00e1rticas do Programa do \u00c1rtico da WWF. \u0022S\u00e3o necess\u00e1rias melhores normas e pr\u00e1ticas para a navega\u00e7\u00e3o comercial no \u00c1rtico\u0022. \u0022As previs\u00f5es de curto prazo para o \u00c1rtico em mat\u00e9ria das condi\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas e do gelo marinho no \u00c1rtico podem tornar mais seguras as crescentes atividades humanas na regi\u00e3o. Esperamos que com isso possam ser evitadas cat\u00e1strofes humanas e ambientais\u0022, afirmou a Dra. Helge Goessling, diretora do departamento de previs\u00f5es sobre o gelo marinho do Alfred Wegener Institut. \u0022Os centros de previs\u00e3o operacionais como o ECMWF est\u00e3o a ar de modelos cl\u00e1ssicos \u0022exclusivamente atmosf\u00e9ricos\u0022 para sistemas integrados que produzem tamb\u00e9m previs\u00f5es din\u00e2micas sobre o estado do gelo em escalas temporais com um poder de resolu\u00e7\u00e3o que pode chegar ao sazonal, e que j\u00e1 demonstraram a sua utilidade com previs\u00f5es de at\u00e9 um m\u00eas. Seja como for, temos de for\u00e7ar esse limite ainda mais\u0022. O C3S est\u00e1 a desenvolver um Servi\u00e7o Global para a Navega\u00e7\u00e3o , destinado a produzir estimativas concretas do impacto do clima nas rotas mar\u00edtimas em todo o globo, incluindo o \u00c1rtico. \u0022Este \u00e9 o primeiro servi\u00e7o que permite ao setor compreender a forma como o clima ir\u00e1 afetar as rotas mar\u00edtimas\u0022, afirmou Carlo Buontempo, diretor do C3S. Algumas empresas exprimiram j\u00e1 o seu interesse em utilizar o servi\u00e7o quando o mesmo estiver totalmente operacional\u0022. Ser-lhes-\u00e1 facultada informa\u00e7\u00e3o sazonal de alta qualidade sobre os fatores-chave clim\u00e1ticos e oce\u00e2nicos que afetam as rotas mar\u00edtimas, e modelos personalizados produzir\u00e3o estimativas dos custos de trajetos espec\u00edficos. O servi\u00e7o global para a navega\u00e7\u00e3o do C3S elaborar\u00e1 tamb\u00e9m proje\u00e7\u00f5es sobre o custo e a disponibilidade das rotas de transporte mar\u00edtimo nos pr\u00f3ximos 10 a 100 anos . No entanto, acrescentou Carlo Buontempo, \u0022a abertura da rota do \u00c1rtico cria tamb\u00e9m novos dilemas \u00e9ticos sobre a explora\u00e7\u00e3o da regi\u00e3o, dado que o aumento do volume dos transportes pode levar ao aumento das emiss\u00f5es e dos riscos de danos ambientais numa regi\u00e3o ainda relativamente virgem\u0022. \u0022O \u00c1rtico necessita que o resto do mundo intensifique os seus esfor\u00e7os e cumpra os seus compromissos de redu\u00e7\u00e3o das emiss\u00f5es de gases de efeito de estufa nos termos do Acordo de Paris\u0022, afirmou Lancaster. \u0022A falta de recursos financeiros, capital humano, capacidade organizacional e conhecimentos est\u00e1 a dificultar, \u00e0s comunidades \u00e1rticas, a sua adapta\u00e7\u00e3o a estas r\u00e1pidas altera\u00e7\u00f5es ambientais. Os Estados do \u00c1rtico ter\u00e3o de colaborar com essas comunidades para as ajudar a adaptarem-se, particularmente nas \u00e1reas costeiras e em zonas com gelo permanente. \u0022Sabemos h\u00e1 muito que, com o intensificar das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, algumas das mudan\u00e7as mais pronunciadas seriam no \u00c1rtico\u0022, segundo Serreze. \u0022Desagrada-nos dizer que avis\u00e1mos, mas o facto \u00e9 que avis\u00e1mos\u0022. ", "dateCreated": "2019-11-06T11:43:59+01:00", "dateModified": "2019-11-22T17:11:43+01:00", "datePublished": "2019-11-06T15:19:20+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F04%2F26%2F41%2F84%2F1440x810_cmsv2_23cc5691-23b0-5984-a913-93edb842edcd-4264184.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Os ver\u00f5es sem gelo est\u00e3o a expor os ecossistemas do \u00c1rtico a mais do que \u00e1guas livres.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F04%2F26%2F41%2F84%2F432x243_cmsv2_23cc5691-23b0-5984-a913-93edb842edcd-4264184.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9ries" ] }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] } #accessibility-bar,#c-burger-button-checkbox,#c-language-switcher-list-open,.c-breaking-news,.c-language-switcher__list,.c-search-form__loader, .o-site-hr__second-level__dropdown,.o-site-hr__second-level__dropdown-mask,.o-site-hr__sidebar,.o-site-hr__sidebar-mask{display:none} .c-barre-now .c-tags-list,.c-barre-now__container,.c-navigation-bar,.c-navigation-bar__wrappable-list,.c-search-form.c-search-engine,.o-site-hr__first-level__container,.o-site-hr__second-level__container,.o-site-hr__second-level__links,.o-site-hr__second-level__burger-logo,.c-burger-button{display:flex} body:not(.has-no-advertising, .has-no-connatix-player, .is-partner-content) .c-article-content > p:nth-of-type(4) + :not(#connatix-container)::before { content: ''; display: block; margin-block-end: 32px; min-height: clamp(162px, calc(100vw * 9 / 16), 310px); } body:not(.has-no-advertising, .has-no-connatix-player, .is-partner-content) .c-article-content > p:nth-of-type(4) + :not(.widget)::before { margin-block-start: 32px; } @s (content-visibility: hidden) { .o-site-hr__second-level__dropdown,.o-site-hr__sidebar { display: flex; content-visibility: hidden; } }
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Ártico: um gelo traiçoeiro?

Ártico: um gelo traiçoeiro?

É geralmente em setembro que o gelo marinho do Ártico atinge a sua cobertura mínima. No entanto, os níveis do mês ado foram de novo invulgarmente baixos, segundo os dados do Copernicus Climate Change Service (C3S) da UE. O gelo cobria uma área 36% inferior dos mares árticos, em comparação com a média de setembro de 1981 a 2010.

O gelo marinho caiu para mínimos recorde em 2012 e 2007, diminuindo, em média, 13,4% por década entre 1979 e 2015 (fonte: Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC)). Recentemente, os seus níveis atingiram valores abaixo da média até no final do inverno, geralmente a época de máximos, revelam os dados do Copernicus.

O Ártico está a aquecer ao dobro do ritmo do resto do planeta, com as temperaturas mais elevadas a forçarem o gelo marítimo a entrar num ciclo de fusão e redução da espessura. A sua extensão é hoje inferior à das décadas de 1980 e 1990 "em todas as áreas, todos os meses e todas as estações", segundo um relatório recente do IPCC, que refere que os cada vez mais reduzidos níveis de gelo marinho de setembro são provavelmente inéditos, pelo menos, nos últimos 1000 anos. O mesmo relatório indica que a época de fusão do gelo marítimo do Ártico é agora mais longa: o gelo funde mais cedo e as águas gelam mais tarde no ano. "Teremos gelo marinho no inverno ainda durante muito tempo. No entanto, se não tomarmos medidas rapidamente, o gelo marinho estival poderá essencialmente desaparecer dentro de apenas algumas décadas", afirmou o Dr. Mark Serreze, diretor do National Snow and Ice Data Center (NSIDC).

Em 2018, o Copernicus relatou a primeira vez em quatro décadas em que o gelo marinho a norte de Gronelândia se abriu inesperadamente no inverno com o influxo de ar quente no Ártico. As previsões exatas e a monitorização da evolução do gelo marinho continuam a ser fundamentais para a compreensão das alterações climáticas. O C3S tem vindo a melhorar as suas previsões com sistemas de modelização que combinam informação recolhida em tempo real sobre o oceano, o mar e o gelo com dados históricos desde 1979. São essenciais dados diários sobre a concentração, a extensão, o tipo e a espessura do gelo marinho para os investigadores estudarem as interações entre o mar e a atmosfera, bem como a influência do gelo marinho nos ecossistemas e na navegação marítima.

As superfícies brancas refletem a luz solar muito melhor do que as mais escuras; o gelo marinho estival reflete cerca de metade da radiação solar que o atinge. Em contrapartida, apenas 10% da mesma é refletida pelas águas livres, pelo que um Ártico com menos gelo marinho no verão absorve mais calor do que o habitual. Trata-se do efeito do albedo do gelo marinho, um dos principais motivadores da "amplificação ártica", segundo o Copernicus. "É parte de um ciclo vicioso: estamos a perder a camada de gelo marinho porque a temperatura está a aumentar e, em simultâneo, a perda da cobertura desse gelo aumenta ainda mais a temperatura", afirmou Serreze. "Essencialmente, o Ártico atua como um frigorífico que ajuda a arrefecer o planeta, e esse efeito está a perder-se. A perda da cobertura do gelo marinho está a acelerar o aquecimento global".

A fusão do gelo marinho pode também libertar metano, um gás com efeito de estufa, aprisionado sob o gelo permanente do Ártico, na plataforma continental a pouca profundidade. Anteriormente, o gelo marinho cobria as costas do Ártico até no verão, mantendo-as abaixo da temperatura de congelação, explicou o Prof. Peter Wadhams, professor de física oceânica na Universidade de Cambridge. Contudo, na última década, com o gelo marinho a recuar e as águas a aquecer, estas atingiram o leito marinho e começaram a derreter o gelo permanente ao largo da costa, e o metano subjacente pode assim libertar-se para a atmosfera. As projeções mostram que, se apenas 8% do gás aprisionado escapar, o que corresponde a cerca de 50 GT, as temperaturas globais poderão subir 0,6 °C, afirmou Wadhams. "Esta é uma grave ameaça que paira sobre a humanidade".

A redução da espessura do gelo marinho altera também a quantidade de luz que penetra na água, o que afeta os processos biológicos marinhos, incluindo ao nível do fitoplâncton e dos peixes. "Acreditamos que as interações em toda a cadeia alimentar sofrerão alterações profundas com menos gelo", afirma a Dra. Barbara Niehoff, diretora-adjunta da secção de oceanografia biológica polar do Alfred Wegener Institut, afetando desde os predadores no topo da pirâmide e as suas presas até aos produtores primários (fitoplâncton) e secundários (zooplâncton herbívoro)".

Além disso, o gelo marinho contém e transporta minúsculas partículas de plásticos, na maioria dos casos em concentrações muito mais elevadas do que na água do mar líquida; a sua fusão sugere que a libertação de plásticos no oceano pode acelerar, segundo Chelsea Rochman, professora auxiliar do departamento de biologia da Universidade de Toronto. Amostras de gelo de cinco regiões do Ártico continham até 12 000 partículas de microplásticos por litro de gelo, revelou um estudo recente. Com o influxo de água do Atlântico Norte e dos mares europeus para o Ártico, quantidades cada vez maiores de resíduos plásticos poderão entrar na região numa questão de anos, de acordo com o Dr. Jason Holt, diretor de modelação de sistemas marinhos no National Oceanography Centre.

A possibilidade de, a meio do século, termos um Ártico sem gelo marinho estival proporciona um atalho apelativo para a navegação da Europa para a Ásia e abre mais das suas áreas à exploração de recursos naturais. Contudo, um Ártico com pouco gelo pode desestabilizar os frágeis ecossistemas polares e afetar profundamente o clima do planeta, advertem os cientistas.

Atravessando as águas árticas desprovidas de gelo, os navios podem reduzir em cerca de 10 a 15 dias a atual viagem de 48 dias da Europa até à Ásia Oriental. A atividade de transporte marítimo sofreu já um aumento nas últimas duas décadas, em linha com a fusão do gelo marinho, revela o relatório do IPCC. A navegação através do gelo invernal poderá ficar também facilitada, uma vez que as águas geladas têm vindo a diminuir de espessura - desde 1979, cerca de 90% da superfície do gelo marinho com mais de cinco anos desapareceu, o que significa que o gelo é agora mais fácil de quebrar.

O aumento do tráfego através dos ecossistemas intocados do Ártico suscita preocupações sobre a exposição ambiental a derramamentos de petróleo e à poluição atmosférica. A maior ameaça da navegação marítima é o fuelóleo pesado (HFO), de acordo com o Conselho do Ártico, um fórum intergovernamental dos Estados do Ártico. A combustão do óleo residual rico em enxofre, favorecido pelos grandes navios, liberta elevadas quantidades de substâncias nocivas, tais como CO2, que contribui para o aquecimento global, óxido nitroso e carbono negro, o segundo gás aprisionador de calor mais potente. A elevada densidade deste último torna-o também extremamente difícil de limpar em caso de derramamento. Em 2015, cerca de 57% do combustível usado pelos navios no Ártico foi HFO.

As emissões provenientes dos navios incluem o carbono negro, libertado pela combustão incompleta de combustível; esta substância absorve mais radiação, tanto na atmosfera como quando se deposita sobre a neve e o gelo. Estudos mostram que o carbono negro no Ártico pode ter um efeito de aquecimento cinco vezes superior ao das latitudes mais a sul. Em comparação com 2015, as estimativas revelam que as emissões de carbono negro podem aumentar 6,5% até 2015. No entanto, basta um pequeno desvio de grandes cargueiros dos canais do Panamá e do Suez para o Ártico para aumentar as emissões em 46%. Algumas companhias de navegação, incluindo a terceira maior empresa mundial de navios de contentores, estão já a anunciar que não utilizarão a rota marítima do Norte por questões ambientais.

A abertura de novas rotas marítimas ameaça também os habitats selvagens, ainda que a magnitude dos danos potenciais permaneça incerta. Um estudo de 2018 sobre sete espécies endémicas de mamíferos marinhos do Ártico revelou que mais de metade das 80 populações animais era vulnerável às rotas marítimas; o narval, uma espécie de baleia que não tende a sair de um habitat limitado, é a mais sensível, juntamente com a beluga e a morsa. As zonas de tráfego mais intenso, tais como o Mar de Bering ou o Ártico do Canadá Oriental, revelaram ser três vezes mais vulneráveis a impactos da navegação do que as áreas mais remotas. Os especialistas afirmam que poderá não existir espaço suficiente para a coexistência da vida selvagem com a navegação sem que se produzam impactos, mesmo com a fusão do gelo marinho. "As alterações do ritmo, da distribuição e da espessura do gelo marinho e da neve foram associadas a alterações na distribuição, na criação de abrigos, no comportamento de procura de alimentos e na sobrevivência dos ursos polares, segundo o IPCC", afirmou Melanie Lancaster, especialista principal em espécies árticas do Programa do Ártico da WWF. "São necessárias melhores normas e práticas para a navegação comercial no Ártico".

"As previsões de curto prazo para o Ártico em matéria das condições meteorológicas e do gelo marinho no Ártico podem tornar mais seguras as crescentes atividades humanas na região. Esperamos que com isso possam ser evitadas catástrofes humanas e ambientais", afirmou a Dra. Helge Goessling, diretora do departamento de previsões sobre o gelo marinho do Alfred Wegener Institut. "Os centros de previsão operacionais como o ECMWF estão a ar de modelos clássicos "exclusivamente atmosféricos" para sistemas integrados que produzem também previsões dinâmicas sobre o estado do gelo em escalas temporais com um poder de resolução que pode chegar ao sazonal, e que já demonstraram a sua utilidade com previsões de até um mês. Seja como for, temos de forçar esse limite ainda mais".

O C3S está a desenvolver um Serviço Global para a Navegação, destinado a produzir estimativas concretas do impacto do clima nas rotas marítimas em todo o globo, incluindo o Ártico. "Este é o primeiro serviço que permite ao setor compreender a forma como o clima irá afetar as rotas marítimas", afirmou Carlo Buontempo, diretor do C3S. Algumas empresas exprimiram já o seu interesse em utilizar o serviço quando o mesmo estiver totalmente operacional". Ser-lhes-á facultada informação sazonal de alta qualidade sobre os fatores-chave climáticos e oceânicos que afetam as rotas marítimas, e modelos personalizados produzirão estimativas dos custos de trajetos específicos.

O serviço global para a navegação do C3S elaborará também projeções sobre o custo e a disponibilidade das rotas de transporte marítimo nos próximos 10 a 100 anos. No entanto, acrescentou Carlo Buontempo, "a abertura da rota do Ártico cria também novos dilemas éticos sobre a exploração da região, dado que o aumento do volume dos transportes pode levar ao aumento das emissões e dos riscos de danos ambientais numa região ainda relativamente virgem".

"O Ártico necessita que o resto do mundo intensifique os seus esforços e cumpra os seus compromissos de redução das emissões de gases de efeito de estufa nos termos do Acordo de Paris", afirmou Lancaster. "A falta de recursos financeiros, capital humano, capacidade organizacional e conhecimentos está a dificultar, às comunidades árticas, a sua adaptação a estas rápidas alterações ambientais. Os Estados do Ártico terão de colaborar com essas comunidades para as ajudar a adaptarem-se, particularmente nas áreas costeiras e em zonas com gelo permanente.

"Sabemos há muito que, com o intensificar das alterações climáticas, algumas das mudanças mais pronunciadas seriam no Ártico", segundo Serreze. "Desagrada-nos dizer que avisámos, mas o facto é que avisámos".

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